sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Quando o desejo é muito pode surgir a superstição.

Procuram-se Deuses, para que não tenhamos de única e exclusivamente agradar a nós próprios (mas o meio também é a mensagem = pervasiveness of self) e arranjam-se dominadores para que mafiosamente se estabeleça a familiar hierarquia em que no topo se encontra o líder do beija-mão. As hierarquias são óptimas quando ninguém se entende (e...), então lá se arranja uma referência, que seja reconhecida referência pelos demais, para além disso retiram "pesos dos ombros" dos demais. Mas alguém que considere no imediato a sua liberdade como um peso, deve querer para si mesmo uma traição auto-infligida (como aquela que nega as suas capacidades e o seu eventual uso). É sensato ser bom, sem que ninguém se traia e seja traído, a proveito de um bem superior (o da maioria no futuro).

Os antepassados das essências são as fantasias e o próprio pensamento.


Para viajar basta existir. Fernando Pessoa



Horizonte

O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
'Splendia sobre sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa ---
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte ---
Os beijos merecidos da Verdade.

Fernando Pessoa

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