quarta-feira, 30 de maio de 2012

Reflexividade


      Se há comida que nunca provei, uma delas é a que aposta numa diferenciação absoluta da culinária da cozinha do comum mortal, não estou a falar de pratos bem confecionados, mas daquilo que considero “manias”, como todos nós temos as nossas, com pena de não serem tão apreciadas da mesma forma, pelas bolsas que gastam dinheiro nesses espaços etéreos.
      Imaginem só um pedreiro, um estivador alimentarem-se com as calorias dadas pelos pratos tão bem pagos, por tão altas classes. Quando consideramos que a variável preço traduz sempre um bem comum refletido da mesma forma para todo o mortal, estamos a ir contra a subjetividade que se deve ter sempre em conta na capacidade de valorização própria de cada pessoa, dos bens que consome. Essa diferenciação é por termos abstratos  um caso clássico de ensimesmamento, uma obra de arte, que só é permitida a quem já muito trabalhou, para chegar a essa “ilha dos amores”.
     O abandono completo do passado, da tradição na avaliação de ativos e de serviços leva os desejos a ultrapassarem as normas, para que mais tarde, por um processo semelhante ao carisma das pessoas, se forme em torno de um fim, um grande avolumar de crenças, que se julgam auto-sustentar só por serem muitos e “darem muito nas vistas”. O que estes pós-modernos nos dizem é que o mais difícil é o começo do enrascanço, porque quando o processo já estiver em ebulição, ninguém saberá distinguir o enrascanço de como fugir do próprio feitiço. É assim que vejo a defesa pulsional tanto dos que querem tudo poupar, para melhores dias, como dos que querem gastar, como se não houvesse amanhã; esses todos pretendem organizar o mundo pelo vácuo das coisas, uma organização pela organização, sem ser tangível, o que todas essas pulsões pretendem de forma extemporânea dar corpo.
     A única norma que nos encarreira fora do caminho, do livre arbítrio tipo a figura do bode que lhe é dado a escolher entre dois caminhos para a sala de abate, é a reciprocidade e isso envolve valores de troca e para isso temos de ser analíticos e ir aos seus constituintes ou valores de uso e para isso temos de saber, para que é que pode ser constituinte o produto trocado.


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